Problemas oriundos da má regulação da vazão do sistema de pulverização de drones agrícolas
Quando falamos do processo de pulverização agrícola, independentemente do método, logo pensamos em agentes defensivos para lavouras, popularmente conhecidos como agrotóxicos. É de conhecimento comum que por esses se tratarem, na maioria das vezes, de compostos químicos sintetizados, a precisão em sua aplicação é de extrema importância, tanto no que se diz de lucratividade para o produtor, segurança do trabalhador como também na importantíssima premissa da saúde alimentar humana.
No caso da pulverização com drones podemos considerar que os danos para a saúde do trabalhador diminuem consideravelmente, visto que o mesmo se encontra a muitos metros de distância do local de aplicação, não dispensando em hipótese alguma o uso de equipamentos de segurança individual para a realização do trabalho. Mas no caso da aplicação dos produtos sob a lavoura, os riscos em respeito da saúde dos hortifrútis são os mesmos.
No entanto, como a demanda da pulverização agrícola com drones é muito nova no Brasil, muitos que estão embarcando nesse mercado não compreendem todos os fatores que podem influenciar nesse processo. Isso se deve principalmente ao fato de que boa parte desses investidores e empreendedores no Brasil são originários do setor de prestação de serviço com drones (principalmente da parte de filmagens aéreas), ou importadores, entre outros, e não possuem noções de agricultura, aplicação de defensivos ou mesmo da dinâmica de pulverização utilizada pelo drone. Assim, muitos estão embarcando nesse setor de uma forma aventureira, buscando prestar o serviço e obter seus lucros, mas não tendo todas as noções necessárias para fazê-lo, o que pode levar a pulverização a ser sem efeitos ou até a prejudicar a lavoura. O ponto que levantaremos no momento é a respeito da vazão da calda do sistema de pulverização do drone.
Um dos pontos cruciais que precisam ser levando em consideração para prestar um bom serviço de pulverização é se atentar para os detalhes da fluidodinâmica da calda pelo sistema do drone, e por mais que isso pareça muito óbvio para profissionais do campo, muitos dos que estão pensando em embarcar nesse ramo não levam em consideração esse ponto, justamente por não perceberem sua relevância. De maneira bem simples, podemos comparar o processo de pulverização com o tratamento de patologias em seres humanos. Quando sentimos dores, ou desconfortos, febres, enjoos, em diante, consultamos um médico que analisa os nossos sintomas, identifica a doença e nos receita um medicamento para começarmos o processo de recuperação. Mas tal medicamento possui tempos e quantidades que precisam ser respeitados para que o efeito do mesmo seja benéfico para o corpo, do contrário ele pode ser ineficiente ou até maléfico. Da mesma maneira, o agente defensivo que vai ser aplicado deve respeitar períodos e quantidades para que traga o efeito desejado.
Essa não parece ser uma tarefa muito difícil se levarmos em consideração que a definição dos parâmetros de frequência de aplicação, concentração da solução e quantidades serão definidos por um profissional interno da lavoura, que também já conta por exemplo com o apoio da bula do medicamento, a qual também já traz informações pertinentes para auxiliar o profissional do campo em seu serviço.
Mas qual é a parte do piloto de drones nesse ciclo? É na escolha da metodologia de aplicação que será feita. A maioria dos drones de pulverização que chegam no Brasil veem da China, e já possuem algoritmos suficientes para que as aeronaves possam realizar o serviço de maneira adequada, mas é crucial que o piloto escolha as configurações certas para que os parâmetros de pulverização sejam compatíveis à necessidade da lavoura, e isso pode não ser assim tão simples.
Boa parte dessas máquinas, se não todas, já possuem o perfil de proporcionarem 3 métodos de voo: o modo ATT, pontos AB e o planejamento de missão. A grande questão é que esses modos de voo por si só não possuem a ferramenta de controle de vazão de fluído. Geralmente a vazão do sistema de pulverização dessas máquinas é dada em função da velocidade de voo da aeronave, assim, é um erro achar que simplesmente ligar o sistema de pulverização e iniciar a trajetória de voo acima da cultura irá trazer os resultados ideais, já que a vazão de calda estará em função da velocidade da aeronave, o que não nos traz segurança de que a quantidade de medicamente a ser despejada sob a lavoura é a recomendada, podendo inviabilizar o processo ou até degradar a produção. A boa notícia é que existem já certos modelos de máquinas que já proporcionam em suas configurações a funcionalidade de regular a vazão do sistema, também se ressaltando a importância de escolher um equipamento adequado na hora da compra. Parece um detalhe simples, mas caso seja negligenciado pode trazer consequências bem ruins para a produção.
Podemos assim também ressaltar a importância de um planejamento adequado. Já que os acordos de contratação desse tipo de serviço podem variar, sendo por diária, área coberta e assim por diante, é importante para o contratado demonstrar ao contratante que possui um plano de operação que além de estar de acordo com as necessidades da lavoura será economicamente viável para o proprietário. Pois assim como qualquer outro processo na cadeia produtiva, a pulverização agrícola com drones é feita de uma série de detalhes, os quais podem parecer demasiados simples e desimportantes em separado, mas quando aliados da maneira correta promovem uma melhoria considerável na rentabilidade dos processos, segurança para os trabalhadores e na saúde do consumidor final.
Agricultor, esteja sempre atento não só ao serviço proposto de uma prestadora de pulverização com drones, mas também à qualidade e confiabilidade do planejamento da mesma. Pergunte sobre a aeronave, sua velocidade, vazão de fluído do sistema de pulverização e largura da pulverização. Pergunte também sobre o planejamento do serviço que será feito. Quanto tempo levará esse processo em uma vazão de X litros por hectare? Qual o planejamento do seu serviço? Qual será a área coberta durante 1 dia? Todos esses questionamentos serão esclarecedores para que o senhor possa verificar o nível técnico da equipe prestadora de serviço, comparar concorrências e entrar em um acordo comercial viável, sempre lembrando que é grande responsabilidade lhe dar com a terra cultivada, pois a boa qualidade dos produtos agrícolas cultivados sem doses abusivas de medicamentos trará segurança para todos, principalmente para a saúde alimentar do consumidor final.
Escrito por: Diogo Santiago Sobral. Engenheiro mecânico, Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU).
Fonte da imagem: https://medium.com/@TMTpost/djis-new-crop-spraying-agricultural-plant-protection-drone-mg-1s-released-bf99d2d4d236